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Mídia democrática? Para onde estamos indo?

Vivemos na era do excesso. E não é difícil perceber isso. As pessoas consomem cada vez mais. Tudo. Desde alimentos – o índice de obesidade no Brasil que não para de crescer sublinha isso – a produtos supérfluos e passando por… informação. Não precisamos nem abrir o jornal ou ligar a televisão. Abra suas redes sociais e a enxurrada de imagens, textos, vídeos e opiniões virão à tona. Esse movimento fez com que a mídia tivesse que se alertar, mudar seu rumo e a forma de entregar seu “conteúdo”. E isso pode ser uma das razões de vermos nos quatro cantos do mundo a derrocada da democracia.
Afinal, para uma democracia funcionar, sua população deve estar nutrida de informação e conhecimento para conseguir tomar as melhores decisões para a sociedade em geral. Apesar de parecer paradoxal, a nossa atual convivência com uma enormidade de informações difundidas pelas mídias escrita, televisiva e eletrônica é uma das principais causas da desinformação e ignorância. É a criação de uma massa desinformada e facilmente manipulável.
No que você acredita?
Com essa enxurrada de informação, onde tudo se diz verdade, pode cegar para o que é de fato real. O jornalismo, obviamente, é uma das soluções para uma sociedade democrática mais forte. Entretanto, hoje em dia vivemos uma desigualdade de distribuição de conteúdo: será que todo mundo consome informação verídica e de fontes confiáveis?
Um dos pesquisadores conceituados em mídia no Brasil, Vitor Blotta, relembra em seus estudos que em lugares mais distantes dos centros das grandes metrópoles a informação é consumida sobretudo pelo celular. A maioria dos planos de internet são pré-pagos e muitos desses com acesso apenas a Whatsapp e Facebook. E será que é lá que existem as informações confiáveis? Como será que a mídia reage a tudo isso?
Ora, se polarizando, criando públicos, dialogando com essa nova faceta do mundo, pautado pela pós-verdade. Estamos num cenário pela crescente digitalização da vida humana e a concepção da verdade pode estar sendo alterada radicalmente. A questão é que quando não sabemos no que confiar, em qual informação confiar, como vamos saber como é a nossa realidade, a nossa sociedade, os reais problemas que enfrentamos como sociedade.
A era da pós-verdade
Os fatos objetivos têm, hoje, cada vez menos importância diante ao apelo às emoções, às crenças sublinhadas e ao discurso de ódio. Como as pessoas reagem, naturalmente, mais a esse tipo de conteúdo do que um “neutro”, os algoritmos favorecem a criação de verdadeiras “câmaras de eco”. Ou seja, no seu perfil você verá apenas informações identificadas de acordo com a sua preferência. Todo o resto torna-se invisível. É por essa razão que o alcance de informações polarizadas ou com teor ideológico são tão ampliadas.
A mídia, para não perder essa luta, usa de ferramentas para conquistar grupos aqui e acolá. A democracia, por sua vez, fica à espreita dessa relação. Saber no que confiar, onde está a verdade, parece um jogo de 7 erros. Conteúdos que buscam cliques, curtidas e compartilhamentos pendem a uma defesa de causas e interesses políticos de grupos específicos.
Muitas perguntas: ainda bem!
Como já dito anteriormente, esse cenário gera desinformação e uma das causas dos tempos que vivemos hoje, onde discursos de ódio e polarização são cada vez mais comuns.
Quantas amizades não foram desfeitas nas últimas eleições? Quantas conversas sobre visões de mundo, sobre fatos concretos do que acontece na nossa sociedade, não conseguem passar da segunda página pelo simples fato de “essa é minha opinião e não aceito outra visão como resposta”?
É claro: se a mídia, os algoritmos e nós mesmos nos acostumamos a ouvir apenas a nossa “câmara de eco”, ideias iguais às nossas, como vamos saber o que realmente está acontecendo?
Muito mais do que respostas, esse tema deve ser levantado para gerarmos perguntas que nos incita a pensar sobre qual o rumo que estamos seguindo como sociedade democrática. Isso já é por si só um ato revolucionário. Afinal, no mundo polarizado as perguntas já têm respostas – ou na verdade nem existe espaço para questionamentos. O caminho é tomar um passo para trás sobre o que consumimos pela mídia e tentar enxergar com nossos próprios olhos críticos e dialogar sobre nosso rumo. Quem sabe, assim, salvamos a democracia.

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