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Como você lida com excessos?

Como você lida com excessos?

De acordo com Aristóteles, temperança ou equilíbrio é uma virtude. Você pode ser muito autoconfiante? Muito expressivo? Muito bom? Muito inteligente? Em outras palavras, muitas coisas, talvez a maioria, são ruins para você. A principal obra de Aristóteles sobre Ética, “Ética a Nicômoco”, tem uma passagem que vai te convidar para esse post:

“Actions, then, are called just and temperate when they are such as the just or the temperate man would do; but it is not the man who does these that is just and temperate, but the man who also does them as just and temperate men do them. It is well said, then, that it is by doing just acts that the just man is produced, and by doing temperate acts the temperate man; without doing these no one would have even a prospect of becoming good.”

O meio fio

Até mesmo excesso de confiança não é vantagem. Uma quantidade moderada de autoconfiança (e até mesmo uma boa quantidade de narcisismo) está relacionada à eficácia, por exemplo, dos líderes. Mas líderes confiantes ou altamente narcisistas são arrogantes e propensos a ir para o lado negro. Além disso, como têm certeza de que nunca estão errados, seus erros não são verificados e eles podem falhar ao se cegarem à realidade.

Vejamos os extremos: muita consciência e a pessoa se torna um perfeccionista, incapaz de completar tarefas porque não são perfeitos. Muita abertura para a experiência e você pode ser um tomador de riscos fora de controle. Muita amabilidade e você é muito bom – permitindo que os outros tirem vantagem de você e você não perceba.

“Mas eu quero ser abundante!”

A palavra da vez é abundância. Mas engana-se quem pensa que abundância é excesso. É nadar em rios de dinheiro, ser a pessoa mais poderosa, ter tudo o que quiser… Existe uma diferença entre excesso e abundância. Abundância é ter mais do que você quer ou ter qualquer coisa além da sua necessidade para COMPARTILHAR. Ser abundante de dinheiro, por exemplo, é ter o necessário para cumprir o seu propósito e sobrar para compartilhar – não simplesmente para estocar. O excesso é algo que é consumido ou retirado mais do que o nível necessário. A vida humana é definida de tal forma que qualquer coisa em excesso estraga a bondade e até mesmo o seu progresso. Buda, ao atingir o nirvana, “voltou”. Não ficou lá.

E o mesmo vale para nossas características e habilidades.

Na maioria das vezes, características, habilidades e outras variáveis psicológicas precisam estar em equilíbrio – extroversão equilibrada com tato; agradabilidade equilibrada com assertividade apropriada; consciência equilibrada com a habilidade de completar tarefas, etc.

E quanto a comportamentos e outros resultados? Você conhece o ditado, “você nunca pode ser muito rico ou muito magro?” Bem, sabemos que muito magro – anorexia – é um problema sério. Que tal muito rico? Bem, sim, até certo ponto pode ser bom. Mas pense no impacto em sua vida, pois você tem a responsabilidade de administrar uma enorme e crescente soma de dinheiro. Você tem mais do que pode gastar e há decisões importantes a serem tomadas sobre o que fazer com isso, tanto que consome sua vida. E principalmente: como você vai olhar e lidar com aqueles que têm menos que você. Há até uma pesquisa que sugere que a felicidade se estabiliza com o aumento da renda, de modo que após uma determinada renda há pouco ou nenhum “aumento” na satisfação.

“Mas eu quero ser MUUUITO feliz!”

Felicidade demais pode ser ruim para você? Bem, na medida em que você não experimenta emoções negativas, pode ser, sim.

Se você fosse constantemente feliz, imagine como tudo pareceria insosso depois de um tempo. Você precisa de uma mistura entre os momentos felizes e tristes para realmente apreciar esses momentos incríveis. Tenho tendência a pensar que a vida funciona segundo uma regra de equilíbrio; cada parte da natureza busca encontrar um equilíbrio.

Essa é uma das lições primordiais, por exemplo, no Bhagavad Gita, um dos textos sagrados em que se narra a história de Arjuna e seu encontro com Krishna. Há uma passagem que Krishna diz: “À medida que as águas (de diferentes rios) entram no Grande Oceano, que embora cheio por todos os lados permanece imperturbado, como sábia uma pessoa que não é perturbada pelo fluxo incessante dos desejos – só pode alcançar a paz, e não o homem que corre atrás esses desejos e se esforça para satisfazer tais desejos.” Mais adiante, Krishna continua: “Não há possibilidade de alguém se tornar um iogue, ó Arjuna, se comer demais ou comer muito pouco, dormir demais ou não dormir o suficiente.”

Levar ao pé da letra: outro sinal de excesso

Ok, você pode não querer se tornar um Iogue. Mas o ponto aqui é que o excesso sempre esconderá uma falta. Excesso de gente. Excesso de amigos. Excesso de tempo no trabalho. Excesso de tempo procrastinando… E assim por diante.

Encontrar a via do meio é encontrar o equilíbrio interno. É saber discernir a partir de que momento algo que aparentemente é bom, em excesso, está escondendo outras facetas da realidade.

A realidade é feita de luz e sombra. Onde há luz, há sombra. Não é possível olhar apenas para a luz sem saber que há a sombra. Luz demais nos cega.

 

 

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