“Toque os sinos que ainda podem tocar. Esqueça sua oferta perfeita. Há uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra”. – Leonard Cohen
Quando tudo está ruindo, quando tudo não parece mais ter solução, quando o prato escorrega da mão e… Não tem muito mais o que fazer. E agora? Chorar pelo leite derramado? Será que essa é a melhor solução? Oras, estávamos fazendo todo o nosso melhor naquele momento e, por “azar” do destino, as coisas não aconteceram como o esperado. Imagine se em todas as situações nos colocássemos no lugar de vítimas desse tal “azar” do destino? É, as coisas não iam andar muito para frente.
Então o que fazer com tudo isso que ruiu, com o prato que caiu, com as coisas que não deram certo? Recolher os cacos e construir um novo futuro. E isso pode ser muito mais poderoso do que simplesmente ignorar tudo o que aconteceu. Não sou eu quem está falando.
Essa é a base da antiga prática japonesa kintsugi (ou Kintsukuroi), que nos ensina a achar a beleza quando tudo está em colapso.
Mesmo quebrados, somos inteiros
Como um copo ou prato favorito, as pessoas às vezes quebram. Podemos até quebrar.
Obviamente, não podemos e não devemos nos “jogar fora” quando isso acontece. Em vez disso, podemos saborear as manchas e aprender a transformar essas cicatrizes em arte – como o kintsugi, uma antiga prática japonesa que embeleza a cerâmica quebrada. Por vezes, quando quebramos algo ou sofremos por alguma situação, temos que olhar para nossos cacos e os unir novamente. E Kintsugi te convida a unir cada pedaço e torná-los ainda mais especiais ao adicionar ouro e prata nessas junções.
Afinal, a imperfeição é bonita.
Kintsugi, na verdade, significa emenda de ouro e nada mais é do que uma manifestação física de resiliência.
Em vez de descartar vasos danificados, os profissionais da arte reparam itens quebrados com um adesivo dourado (antigamente uma mistura com pó de ouro) que aprimora as linhas de quebra, tornando a peça única. Eles chamam a atenção para as linhas feitas pelo tempo e pelo uso grosseiro; estes não são uma fonte de vergonha. Essa prática enfatiza a beleza e a utilidade das quebras e das imperfeições. Transforma um problema em uma vantagem.
Da onde isso surgiu?
Segundo os historiadores da arte, o kintsugi surgiu acidentalmente (o que é apropriado). No século XV um militar do alto escalão japonês, Ashikaga Yoshimasa, quebrou sua tigela de chá favorita. Então, ele a enviou à China para reparos e ficou desapontado por ter voltado bem mais ou menos: ao invés de colarem, colocaram grampos nas rachaduras. Os pinos de metal eram “feios”. Os artesãos locais tiveram uma solução: encheram a fenda com uma laca dourada, tornando a tigela única e valiosa.
Veja bem: esse reparo elevou a tigela caída de volta ao seu lugar como favorito do Ashikaga e levou a uma nova forma de arte – e de ver a vida.
Afinal, você provavelmente não espera que outras pessoas sejam perfeitas. Você, na verdade, pode apreciar quando as pessoas expõem suas vulnerabilidades, mostram feridas antigas ou admitem erros.
É uma prova de que somos todos falíveis, que curamos e crescemos, que sobrevivemos a golpes do ego à nossa reputação ou saúde e que podemos viver para contar história. Além disso, expor vulnerabilidades ao admitir erros cria intimidade e confiança nos relacionamentos e promove o perdão.
Melhor ser imperfeito que ordinário
Eu já vi pessoas se reestruturarem, renascerem como uma fênix, após perderem tudo. Tudo? Será que quando falhamos não estamos vendo novas possibilidades de fazer algo diferente e de uma melhor maneira?
E isso serve para nosso contexto pessoal e empresarial. Quantas empresas já não saíram de momentos turbulentos e voltaram muito mais fortes? Assumir os erros, identificar os pontos que estão frouxos, é ter a humildade de reestruturar o que precisa ser reestruturado para criar algo tão grandioso quanto era antes.
Nós erramos. E ainda bem. Nós não somos perfeitos.
É como escreve Brene Brown em seu livro Daring Greatly: “Vulnerabilidade é coragem em você e inadequação em mim”. Não devemos nos envergonhar das nossas fissuras. Elas nos tornam únicos. Nenhuma experiência é desperdiçada. Tudo o que você faz – bom ou ruim – pode servir de lição, mesmo que você nunca mais queira repetir isso.
Na verdade, os erros podem ser as experiências mais importantes e eficazes de todas as outras. Já reparou no seu vaso?