Ao não nos darmos os minutos – ou horas – livres de dispositivos e distrações, corremos o risco de perder nossa capacidade de saber quem somos e o que é importante para nós. Quem diz isso não sou eu, mas sim o físico e escritor Alan Lightman.
Desde 1970, os seres humanos destruíram mais de 30 por cento das florestas e do ecossistema marinho, de acordo com o Fundo Mundial para a Natureza. A destruição foi uma consequência não intencional do crescimento populacional, do desejo de maior riqueza material e conforto e da necessidade associada de mais energia. Também foi impulsionado pelo imperativo inexorável do capitalismo e o desejo poderoso de certos indivíduos de aumentar sua riqueza pessoal. Além disso, aumentou de forma vertiginosa a nossa conexão. Estamos em constante contato com nossos amigos, familiares, chefes, colegas… Onde arrumamos um tempo para nos centrar em nós mesmos?
A destruição de nosso eu interior por meio do mundo conectado é um fenômeno ainda mais recente e mais sutil. A perda de lentidão, de tempo para reflexão e contemplação, de privacidade e solidão, de silêncio, da capacidade de sentar-se quieto em uma cadeira por quinze minutos sem estimulação externa – tudo aconteceu de forma rápida e quase invisível. Cento e cinquenta anos atrás, o telefone não existia. Cinqüenta anos atrás, a Internet não existia. Vinte e cinco anos atrás, o Google não existia. Você se lembra sem celular?
A situação é terrível, para não dizer desesperadora. Assim como com o aquecimento global, podemos já estar próximos do ponto sem volta. Invisivelmente, quase sem perceber, estamos nos perdendo de nós mesmos – assunto que debato muito aqui no blog. E se nos perdermos de nós mesmos, não conseguimos ser bons chefes, funcionários, maridos, esposas, pais, mães, filhos, amigos… Estamos perdendo nossa capacidade de saber quem somos e o que é importante para nós. Estamos criando uma máquina global na qual cada um de nós é uma engrenagem irracional e reflexiva, impiedosamente impulsionada pela velocidade, ruído e urgência artificial do mundo conectado.
Dê um tempo ao seu cérebro
Excesso de estimulação e barulho vindo em nossa direção sem uma pausa pode ser opressor. Sem espaço para ver o que se acontece, não sabemos, realmente, o que se passa em nós e em nossa volta. Faça uma escolha consciente de desligar o telefone e decidir como usará o silêncio. Pode parecer desafiador arranjar tempo para desfrutar do silêncio. Por isso, minha dica é: reserve um tempo de silêncio para sua saúde mental. Use o silêncio para permitir que sua mente desacelere. No começo pode ser bem desesperador. Nossa mente começa a ruminar coisas, passado, futuro… Uma bagunça. Se você está usando o tempo de silêncio para se preocupar e ruminar – que é o que o cérebro dos primatas está programado para fazer quando não estamos envolvidos em uma tarefa – isso não é útil e vai piorar as coisas. Mas fique tranquilo, vai passar.
Escolha algo positivo para direcionar sua atenção e interromper qualquer ciclo negativo. Note sua respiração, as nuvens no céu, o pássaro cantando…
Ainda está muito difícil? Escolha um dia no fim de semana e desligue seu celular por algumas horas. Veja como é e se você gosta – e aposto que vai amar – você pode estender o tempo até ter um dia sem tecnologia.
Para pais com filhos pequenos, sabemos que silencio é um pouco difícil. Por isso, quando os pequenos forem dormir, desligue tudo e contemple o silêncio. Faça uma meditação guiada.
Estarmos conscientes de quem somos
Isso nos ajuda a viver conscientemente. De acordo com psicólogos e filósofos, o silêncio pode nos despertar e fornecer respostas significativas em nossas vidas. O silêncio pode nos dar um empurrãozinho para que saibamos se algo não parece certo, colocando-nos em contato com nosso corpo e nossas emoções. Os benefícios psicológicos de experimentar o silêncio – mesmo quando isso nos deixa desconfortáveis - podem significar uma vida com mais propósito. O silêncio pode aumentar a autoconsciência, a autocompaixão e melhorar as habilidades de tomada de decisão com maior clareza mental.
Use essas pausas para se tornar mais consciente e compassivo. A pausa pode ser de uma respiração, como explica o ZaZen. Afinal, a plena atenção é o primeiro passo para a cura emocional. É a partir dessas pausas que somos capazes de nos voltarmos e reconhecermos nossos pensamentos e sentimentos difíceis – como inadequação, tristeza, raiva ou confusão – com um espírito de abertura e curiosidade. A autocompaixão envolve responder a esses pensamentos e sentimentos difíceis com bondade, simpatia e compreensão para que possamos nos acalmar e confortar quando estamos sofrendo. Curar não é colocar embaixo do tapete. É encarar.
Lao Tzu disse uma vez: “O silêncio é uma fonte de grande força”. Reservar um tempo para o silêncio envia a si mesmo a mensagem de que vale a pena ouvir. Honre sua vida praticando o silêncio regularmente.