“és um senhor tão bonito, quanto a cara do teu filho… Tempo, tempo, tempo, tempo…” Caetano Veloso
Todos nós sabemos que horas são. É o tique-taque de um relógio, o zumbido de um alarme, o calendário na parede. E já que todos nós concordamos sobre como essas coisas funcionam, o tempo pode parecer sólido como uma rocha. Mas será? Ao invés de olhar para o relógio, foque no que esse senhor soberano tem a ensinar. Foque no seu agir, na sua essência… Mas quando? E isso importa?
Por que o tempo é controverso?
Parece real, sempre lá, avançando inexoravelmente. O tempo flui, corre como um rio. O tempo tem direção, sempre avança. O tempo tem ordem, uma coisa após a outra. O tempo tem duração, um período quantificável entre eventos. O tempo tem um presente privilegiado: só o agora é real. O tempo parece ser o pano de fundo universal através do qual todos os eventos acontecem, de modo que a ordem pode ser sequenciada e as durações medidas.
A questão é se essas características são realidades reais do mundo físico ou construções artificiais da mentalidade humana. O tempo pode não ser o que parece – essa unidade suave sem partes, o palco sempre existente em que todos os acontecimentos acontecem.
É, foi e será? Ou simplesmente é?
Estamos sendo enganados por nossas perspectivas humanas? A nossa sensação de que o tempo flui, ou passa e tem uma direção necessária, é falsa? Estamos dando falsa importância ao momento presente?
Podemos retratar nossa realidade como um lugar tridimensional onde as coisas acontecem ao longo do tempo ou como um lugar quadridimensional onde nada ocorre. Então, a mudança é realmente uma ilusão, porque não há nada que está mudando, está tudo ali – passado, presente, futuro.
Por essa perspectiva, a vida é como um filme e o espaço-tempo é como um DVD. Não há nada nele que esteja mudando, embora haja todo esse drama se desenrolando no filme que está dentro dele. Temos a ilusão de que o passado já aconteceu e o futuro ainda não existe, e que as coisas estão mudando. Mas tudo que estou ciente é do estado do meu cérebro agora. A única razão pela qual eu sinto que tenho um passado é que meu cérebro contém memórias. Só por causa disso.
O tempo está aí e é muito além do que imaginamos. O tempo que conhecemos desde que aprendemos a dizer o tempo em um relógio parece desaparecer quando estudamos um pouco de física, até chegar à relatividade.
A essência da relatividade é que não existe tempo absoluto, nem espaço absoluto. Tudo é relativo. Quando você tenta discutir o tempo no contexto do universo, precisa da simples ideia de isolar parte do universo e chamá-lo de seu relógio, e a evolução do tempo trata apenas da relação entre algumas partes do universo e aquela coisa que você chama de relógio.
Julian Barbour, um físico britânico, descreve o tempo como “uma sucessão de imagens, uma sucessão de instantâneos, transformando-se continuamente um no outro. Estou olhando para você; você está balançando a cabeça. Sem essa mudança, não teríamos qualquer noção de tempo. ”
A mudança é real, mas o tempo não. O tempo é apenas um reflexo da mudança. A partir da mudança, nosso cérebro constrói uma sensação de tempo como se ele estivesse fluindo. Mas quem está fluindo somos nós. Todas as evidências que temos do tempo estão codificadas em configurações estáticas, que vemos ou experimentamos subjetivamente, todas elas se encaixando para fazer o tempo parecer linear.
Quem controla quem?
O tempo é a coisa mais valiosa que nós temos. Isso porque, desde os primórdios, tentamos controlar e mensurar o tempo. Vivemos por ele. E, mesmo assim, parece que sempre falta tempo, aquele segundo a mais. Na verdade, o que falta é “centramento”.
Afinal, não controlamos o tempo, mas sim a nossa perspectiva sobre ele. Como você quer viver o seu tempo? Quanto tempo tem seu tempo? Você está de distraindo, desperdiçando o seu senhor soberano? Passe pelo tempo, não deixe ele passar por você.