A passagem do conhecimento e o armazenamento desse conhecimento sempre foi um assunto que me chamou atenção. Como somos capazes de ir armazenando o conhecimento de anos e anos sem esquecer e passar para as demais gerações. Para entender esse assunto vamos voltar um pouco no tempo. Vamos para o tempo onde o homem pouco se comunicava. Não existia uma fala e toda a linguagem era feita por gestos e desenhos. As pessoas que viviam naquela época entravam em cavernas e registravam os acontecimentos para passar para os seus familiares e celebrarem rituais. Eram desenhos que representavam o seu dia a dia. Esse foi o primeiro modelo de comunicação e armazenamento de informação externo que existiu.
Vamos um pouco mais adiante. O momento em que a arte surgiu. Artistas pintavam e se expressavam em telas. Essas artes representavam acontecimentos históricos, momentos de vidas das pessoas e expressão do que o artista estava passando e sentindo no momento. Era a sua percepção de vida. Graças a essa arte, podemos estudar o que aconteceu naquele período. Mas ainda nesse período decorar era necessário. Pais reuniam seus filhos em mesas de jantares ou arredores de fogueiras para passar o conhecimento. O nosso cérebro funcionava como um HD. Tínhamos que decorar tudo para depois passar para outra pessoa esse conhecimento. O conhecimento ainda estava dentro das pessoas e para ter acesso a ele era necessário conversar com as pessoas.
A primeira grande mudança no nosso modelo de armazenamento de informação aconteceu quando Gutenberg inventou a impressão. Ele lançou as bases para a economia baseada no conhecimento e da disseminação do conhecimento em massa. No momento que registramos o conhecimento nos livros, desocupamos um pouco o cérebro pois já sabemos onde encontrar a informação. Iniciamos a adquirir o conhecimento e processar muito mais rápido do que antigamente. As idéias fluem muito mais rápido pois temos acesso a informação.
A fotografia surgiu para deixar o registro do nosso dia a dia. Tiramos fotos para registrar os momentos que passamos. Para tentar imortalizar esse momento para sempre. O grande problema é que no inicio a produção de fotografia era muito baseada no filme que tinha um tempo de duração e muitas vezes as fotos eram perdidas se não bem cuidadas. Com a queda do preço da tecnologia o acesso as maquinas fotográficas ficaram mais acessíveis e pessoas hoje tiram foto utilizando ate mesmo telefones celulares. Registram todos os dias ou até mesmo segundos da sua vida.
Mesmo com toda essa evolução ainda era difícil ter acesso a toda a informação possível. Era necessário ir em uma biblioteca e passar horas ou dias lendo livros e revistas para obter informações. Ai surge a segunda grande mudança no modelo de armazenamento de informação e forma de busca de informação. A internet. Hoje apenas um clique conseguimos ter a informação que queremos. O nosso modelo de pensar mudou. A forma de armazenamento de informação sofreu uma grande mudança pois sabemos que toda essa informação esta a apenas um click de nossas mãos. O grande problema é que com a internet sofremos um bombardeio de informação e ficamos soterrados e ansiosos. Não sabemos realmente o que é interessante ou não e ficamos preocupados por não estar lendo todas as noticias necessárias. Nosso cérebro começou a passar muito mais processamento de informação do que armazenamento. Já me deparei varias vezes esquecendo nomes, informações, endereços. Automaticamente esquecemos porque sabemos que essa informação esta armazenada em um local de fácil acesso. Hoje em dia nao sabem mais os telefones das pessoas. Eu ainda era da época antes do celular onde armazenamos ou decorávamos números de telefones de pessoas próximas. Hj tudo esta armazenado em nosso celular. Basta apertar um botao que ja ligamos para as pessoas
No passado, as pessoas tinham de ter as informações na própria mente porque não tinham livros para consultar. E então aconteceu uma mudança: com a invenção da imprensa escrita, não era mais preciso internalizar a informação, mas saber como encontrá-la. Argumento que hoje a noção de erudição está mudando novamente, indo para um caminho em que não é mais necessário nem saber como encontrá-la. Cada vez mais os mecanismos de busca podem encontrar para você.
A tecnologia ficou barata e permitiu que toda a massa tenha acesso a internet e aparelhos tecnologicos que permitam pessoas registrarem todos os dias os seus conhecimentos e buscarem e compartilharem experiencias com outras pessoas. Gordon E. Moore, presidente da Intel em 1965 já dizia que o número de transmissores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada período de 18 meses. A Lei de More cada vez é mais verdade. Para o rádio atingir 50 milhões de usuários levou 38 anos, a televisão levou 13 anos e a internet levou apenas 7 anos. As redes sociais estão levando apenas 5 anos para atingir 400 milhões de usuários. A tecnologia ficando barata está em todo os lugares do mundo.
Nós somos exploradores do mundo por essência. A nossa função é documentar o mundo. E é isso que estamos fazendo diariamente.
Com todo o acesso a tecnologia surgiu uma nova geração de jovens loucos por gadgets e rede sociais. Essa geração chamada de GeraçãoY ou Geração da internet. Essa geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Os pais, não querendo repetir o abandono das gerações anteriores, encheram-nos de presentes, atenções e atividades, fomentando a autoestima de seus filhos. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e lutam por salários ambiciosos desde cedo. É comum que os jovens dessa geração troquem de emprego com frequência em busca de oportunidades que ofereçam mais desafios e crescimento profissional. Uma de suas características atuais é a utilização de aparelhos de alta tecnologia, como telefones celulares de última geração, os chamados smartphones (telefones inteligentes), para muitas outras finalidades além de apenas fazer e receber ligações como é característico das gerações anteriores. Eles nasceram com a internet e pegaram a onda das redes sociais. A tecnologia com a união dessas redes fez com que pessoas se transformassem em Lifeloggers. Estamos gravando todos os nossos dias da nossa vida sem percebermos. Damos milhares de inputs diarios nas mais diversas redes sociais. Estamos fazendo nada mais do que um diario eletronico, atraves de fotos, videos, blogs e redes sociais. Existem milhares de gadgets feitos para gerar esses inputs nas redes sociais. Sono, exercício, sexo, humor, local, alerta, produtividade. Tudo esta sendo acompanhado, mensurado e dividido com a rede social. Nós usamos números quando queremos arrumar um carro, analisar uma reação quimica, prever uma eleição. Porque não utilizamos números para nos acompanhar diariamente. A unica maneira antiga de mensurar era escrever dados em papel ou através de exames complexos. Hoje a realidade já é outra. Conseguimos fazer check-ups diários para acompanhar nossa saúde e podemos disponibilizar isso para milhares de pessoas e médicos para acompanhar e te dar um feedback. Isso graças as 4 grandes mudanças: sensores eletronicos ficaram menores e melhores, pessoas começaram a andar com poderosos aparelhos tecnológicos, rede social tornou facil de dividir as informações e a quarta grande mudança foi a nuvem. Todos os nossos arquivos estão na nuvem e temos acesso onde quisermos.
Para termos um pouco da dimensão do que estamos falando é interessante botar alguns números para fortalecer a compreensão. Nós botamos cerca de 3.5 bilhões de conteúdo cada semana no facebook, 65 milhões de pessoas acessam via celular o facebook, 2.5 bilhões de fotos são colocadas mensalmente no facebook. 11% da população mundial tem conta no facebook. 150 milhões de mensagens são enviadas diariamente no twitter isso corresponde a 1736 mensagens por segundo. 35 horas de vídeos são colocados no youtube a cada minuto. Temos mais de 150 milhões de fotos já colocadas no instagram. As pessoas dão mais de 2milhões de check-in a cada semana no foursquare. (Dados tirados do vídeo no site www.videoinfographs.com)
O fim da memória caminha para uma realidade. As novas gerações vão ser treinadas a guardar pouca informação e procurar tudo que é necessário na internet. O google criou diversas ferramentas que são uma extensão da nossa memória.Muitos utilizam google calendar para nunca esquecer de suas reuniões e aniversários. Google docs que armazena todos os seus documentos e artigos na nuvem, google reader que facilita a sua busca pelos seus sites favoritos. Com essa ferramenta em um lugar você tem toda a noticia que quer e a mais conhecida de todas o Google search. Tudo que você precisa saber está apenas a um click. O google está mudando a forma que guardamos e lembramos das coisas. Antigamente sem o acesso a internet se queríamos saber sobre alguma coisa tínhamos que recorrer a poucas ferramentas para isso. Pessoas criavam técnicas para memorizar a informação. Muitas vezzes funcionava com associações de informações. Quando precisavamos novamente da informacão, la estava na cabeça. Esse é o modelo que utilizamos na escola para decorar a tabela periodica para as provas de Quimica ou os afluentes do rio Amazonas nas provas de Geografia. Hoje se você não sabe alguma coisa, a primeria coisa que fazemos é entrar na internet. Com os novos modelos de busca, não armazenamos a informação internamente. Isso porque é mais facil achar essa informação no momento necessário. Uma boa analogia para isso é o modelo de fábrica antiga onde faziam milhares de produtos de uma só vez o estoque desse produto era grande. O produto estava no estoque ocupando espaço. Hoje tudo funciona em um modelo mais just in time. No momento que precisar o produto inicia um processo. A coisa mais importante hoje é saber o caminho para achar a informação que necessita. O problema é que cada vez mais estamos dependentes dessa tecnologia e ficamos um pouco superficial e isso pode enfraquecer a cultura. O maior problema é que com o excesso de informação na internet ficamos confusos com a veracidade das informações. Tem muito lixo sendo publicado e para termos um noção global de algum assunto precisamos checar todas as informações constantemente.
Recentemente o facebook mudou o seu formato criando o Timeline. Muitas pessoas ficaram perdidas com essa mudança mas não perceberam que eles identificaram essa geração de Lifeloggers e entenderam como eles estão utilizando isso diariamente. Nós estamos escrevendo a nossa história diariamente nas redes sociais. No facebook você consegue descobrir que você fez em determinada data de um ano. Estamos coleccionando histórias e experiências. Isso só funcionou porque o homem gosta de dividir com as pessoas suas opiniões e os acontecimentos do seu dia. O coração da internet 3.0 é falar algo que as pessoas queiram dividir. Isso não faz lembrar um pouco o inicio da civilização onde as pessoas escreviam nas cavernas para contar as historias para os proximos e se reuniam com os familiares para repassar o conhecimento. Com a internet a informação corre muito mais rápido e o acesso é livre. É a democratização da informação.
Existem pessoas que tiram uma foto por dia do seu rosto para ter uma filme da sua vida. Esse é o caso de Noah Kalina, que criou o Everyday. Desde os 19 anos ele tira uma foto de si mesmo. Hoje, com 30, ele continua tirando fotos de seu rosto. O seu vídeo pode ser encontrado na internet.Durante seis anos, fotografou-se todos os dias, pacientemente, desde exatamente o dia 11 de janeiro de 2000, quando ele tinha apenas 19 anos. Everyday é o resultado destes 2356 dias que inspiraram e ainda continuam inspirando milhões de pessoas a imprimirem um pouco de si neste mundo tão efêmero em que vivemos. Chega a ser assustador essa evolução e as diferenças. Nós que vivemos diariamente nao percebemos essa mudança que está acontecendo diariamente, mas ao ver o vídeo percebemos.
Um outro caso mais recente que descobri em uma das apresentações do Ted foi o projeto 1 second everyday. No seu 30 aniversário, Cesar Kuriyama, desistiu de ser publicitário para investir em seu mais novo projeto. Ele já esta gravando um minuto da sua vida a cada dia. Essas filmagens já podem ser encontradas no Vimeo. Ele tem certeza que através desse simples ato de filmar todos os dias um segundo da sua vida, vai ser uma forma de lembrar a sua história para sempre.Acredito que esse ato de guardar um segundo por dia faz com que todo o restante do dia seja lembrado. As conexões dos acontecimentos facilita a lembrança.
Tive a oportunidade de conhecer Regis Mackena recentemente e em uma de nossas conversas ele me contou que ele escreve a 50 anos todos os acontecimentos do seu dia dia. Perguntei porque fazia isso e a resposta que tive já era o que esperava. Ele faz isso para conectar os pontos. Quando acontece algo no presente ele estuda o passado para poder ver o caminho que isso percorreu para chegar no presente. Tudo fica mais claro lendo o passado e conectando os pontos. O engraçado é que faço isso com idéias. Costumo escrever todas as ideias e pensamentos que tenho diariamente.
A arqueologia de hoje é digital. Os historiadores vão conseguir estudar o passado através das redes sociais. Vão conseguir ver perfil das pessoas, ver tendências. Existem sites que você consegue ver o histórico de land pages da sua marca. Isso já é uma arqueologia moderna.
Pessoas estão falando constantemente de marcas e gostos na internet sem ao menos perguntarmos.Isso é muito rico para as empresas que conseguem realmente ter uma medição da qualidade do seu trabalho. Existem ferramentas como Radio6, Spoon e outras que captam todas as menções de suas marcas na internet. Esse é o modelo de pesquisa do futuro. Uma pesquisa de livre expontânea vontade das pessoas e sem a influencia de um entrevistador. É a realidade nua e crua que é muito rica para a empresa. Ideias podem surgir e processos podem ser mudados diariamente pois todos os dias pessoas falam sobre a sua marca. As empresas precisam acordar para os lifeloggers. Essa tendência pode ajudar as empresas a acharem novos produtos, novos mercados. Cada vez mais vamos ver mais e mais pessoas escrevendo e guardando a sua história online.
No momento que criamos esse museu portável da nossa vida, criamos a imortalidade. Mesmo no momento que deixarmos a vida, a nosso história e o nosso ser virtual vai continuar nas redes sociais. Vão ser os locais onde as pessoas vão poder ler e reler a sua história, matar saudades ou deixar mensagens como antigamente fazíamos em cemitérios. Vamos guardar para sempre boas lembraças e histórias de nossos amigos. Quem sabe a história da sua vida possa servir como um livro para aprendizado do seu filho. Ele vai poder ter certeza o que vc fazia e quem sabe a sua interação com ele pode aumentar. Pois vai saber muito mais da sua vida e de seus gostos. A internet é a caverna antiga e as pinturas são as nossas escritas. Vamos escrever a nossa história e criar a nossa imortalidade e influenciar as novas gerações…